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Balada de Ilusões

Imagem de capa da exposição Balada de Ilusões

Sobre

Março de 2024

Nascida em Itabuna, no interior da Bahia, Laura Pascoal cresceu em meio a constantes mudanças de casa: morou em Ilhéus, Caruaru, São Félix do Coribe, Lagoa do Carro, Carpina, Pedra, Limoeiro e Recife, cidade na qual vive desde 2013. Tendo sido criada entre estradas, camelôs e salões de beleza, ela descobre na sua pintura o ponto de encontro daquilo que mais a comove. No seu trabalho, concatena elementos aparentemente imiscíveis (como animal prints, glitches e tipografias vernaculares) em uma malha de conjugações tão improváveis quanto coesas. Esses, são legítimos para a artista por provirem de sua cotidianidade e, uma vez em interação, conferem ao seu trabalho uma dimensão confessional, ora explícita, ora cifrada. Suas pinturas anunciam, em meio ao seu intrínseco excesso, uma sinceridade imbuída em uma narrativa melodramática, caráter inalienável à lente através da qual Laura se percebe habitando o mundo. 

Mas, embora suas imagens se deem através do avizinhamento de visualidades díspares, vale atentar para o fato de que o seu trabalho não é uma colagem ou uma assemblage: o filtro da linguagem da pintura se torna um imperativo, e esta não cessa de mediar o que se vê representado. Os gestos pictóricos, por sua vez, não são homogêneos, podendo tanto reproduzir com maestria imagens fotográficas, ilustrações e letreiros de rua, quanto explorar outras características próprias à pintura e ao caráter objetual de um trabalho pintado: pinceladas fartas e imprecisas, stencils e sobreposições de camadas de tinta. Conjugados em uma mesma tela, evidenciam a escolha de sua autora pela oscilação entre distintas formas de pintar elementos já heterogêneos. Os quadros de Laura Pascoal são o ponto de encontro entre justa medida e demasia, fragilidade e agressividade, espontaneidade e rigor, lisura da imagem e índice da mão da artista.

“No final das contas, acho que coloco muito em minhas telas porque realmente sinto muito”, relata. O caráter melodramático da obra de Laura Pascoal se dá justamente pela representação hiperbólica de sentimentos como desejo e paixão. Piegas é aquilo que expressa um sentimentalismo imoderado, em tese anti-natural pela grandiosidade de sua eloquência. Mas é nesse exagero que está sintonizada a própria frequência através da qual a artista opera cotidianamente. Como quem mira nos olhos um cavalo selvagem, através de tinta sobre tela Laura tenta apreender trechos de si em cada uma das imagens que produz. Seus quadros teatrais emendam forma, adorno e cena. Esse excesso, que parte radialmente das figuras centrais do quadro, nada mais é do que uma rememoração daquilo que a constitui intimamente. 

Guilherme Moraes

Jazzz Agência Digital