Novembro de 2020
Tempo, signo, ruína, luz, carvão. Caminho instável, tomado por incertezas e dúvidas irreversíveis, nos leva a “folhear” as primeiras páginas da exposição Livro terceiro das figuras consideradas no espaço, romance imagético concebido pelo eterno e compulsivo ritual de copulação entre palavra e imagem do artista Alexandre Nóbrega.
Andarilho que não vislumbra um ponto de chegada, em seu trajeto, cultiva o respeito pelo efeito implacável da ação do tempo, nas palavras, nos objetos coletados, nas estruturas em decomposição e por si mesmo, como um corpo físico vagante.
Nessa mostra, nos situamos no interior de um romance ainda em desenvolvimento e resistente em sua finalização… Sua escrita vigorosa representa o inominável, a materialização do imaterial em um conjunto de gestos, expressões primitivas, formas imprevisíveis e desenhos mal traçados, que conjuram imagens inexistentes em um livro que condensa os pensamentos e imagens inconcebíveis do subconsciente do artista.
Seu trabalho se configura em ações que marcam o tempo, mas não o definem. O tempo está relacionado em todo o seu processo, não através de datas, e sim de páginas, parágrafos visuais, resíduos do seu dia a dia, que se revelam em uma abstração ritmada na gama do preto e branco, escalas de luz, sombras e texturas.